O Monte Fuji, uma das montanhas mais icônicas do Japão e símbolo da cultura nipônica, acaba de quebrar um recorde histórico: pela primeira vez em 130 anos, a montanha se aproxima do final de outubro sem neve no cume. O fenômeno, que surpreendeu autoridades e meteorologistas, coincide com um verão recorde em temperaturas e reforça as discussões sobre o impacto das mudanças climáticas globais.
De acordo com a Agência de Notícias AFP, o pico da montanha japonesa, que costuma ter seus primeiros sinais de neve no início de outubro, permanece sem cobertura, um efeito direto do clima excepcionalmente quente que atingiu o país em 2023. No ano passado, a primeira queda de neve ocorreu no dia 5 de outubro, marcando um padrão que, neste ano, já foi significativamente alterado.
Verão Escaldante e Mudanças Atmosféricas
Este verão no Japão foi o mais quente já registrado, com temperaturas médias de junho a agosto sendo 1,76 °C superiores à média histórica. Durante o mês de setembro, o calor continuou intenso, impulsionado pela posição anormal da corrente de jato subtropical, que trouxe ar mais quente ao sul, sobre o arquipélago. Esse fenômeno climático, caracterizado por correntes de ar rápido que se deslocam ao redor do planeta, ocorre quando o ar quente do sul encontra massas de ar frio ao norte.
No mês passado, quase 1,5 mil áreas no Japão registraram dias “extremamente quentes”, segundo a classificação da Sociedade Meteorológica do Japão, com temperaturas iguais ou superiores a 35 °C. Esse calor extremo impactou diretamente as condições atmosféricas para formação de neve. A chuva precisa de temperaturas próximas a zero para se transformar em neve, e as temperaturas mais elevadas impedem a formação das camadas de gelo nas montanhas.
O Mais Longo Período Sem Neve Desde 1894
Com outubro encerrando e ainda sem nenhuma camada de neve no Monte Fuji, a montanha ultrapassa um recorde anterior de 26 de outubro, visto apenas duas vezes antes, em 1955 e 2016, como informou Yutaka Katsuta, meteorologista do Escritório Meteorológico Local de Kofu, à AFP.
A ausência de neve no Monte Fuji, embora não possa ser isoladamente atribuída às mudanças climáticas, está de acordo com as previsões de especialistas em clima sobre o impacto do aquecimento global. Eventos como esse, com padrões de calor extremo e mudanças nas dinâmicas atmosféricas, tendem a se tornar mais comuns em um mundo em constante aquecimento.
Símbolo Cultural em Risco?
Além de seu significado ecológico, o Monte Fuji possui imenso valor cultural e espiritual para o Japão. Com 3.776 metros de altura, o vulcão, que teve sua última erupção há mais de 300 anos, é um elemento recorrente na arte japonesa, representado em gravuras históricas e obras de artistas renomados. Visível de Tóquio em dias claros, o Monte Fuji é um marco turístico e espiritual, atraindo milhares de visitantes a cada ano. Somente em 2022, mais de 220 mil pessoas subiram até o cume durante a temporada de julho a setembro.
Para além da beleza cênica, o aquecimento global coloca em risco um dos elementos mais reverenciados do Japão. A ausência de neve no Monte Fuji pode ser um sinal de alerta não apenas para o Japão, mas para o mundo todo, sobre a necessidade urgente de medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
Reflexões e a Necessidade de Ação Global
A continuidade das altas temperaturas e a falta de neve no Monte Fuji levantam questões sobre o futuro dos picos nevados em todo o mundo. Especialistas destacam que, embora eventos isolados possam ocorrer naturalmente, a frequência e intensidade crescentes de condições meteorológicas extremas indicam uma tendência preocupante.