No segundo dia do júri popular que julga os assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro avança nas discussões sobre o crime que chocou o Brasil em março de 2018. Nesta quinta-feira (31), o Fórum Central do Rio de Janeiro recebe as argumentações finais de acusação e defesa, além da votação do júri que determinará a culpa ou inocência dos réus Ronnie Lessa e Élcio Queiroz.
Durante o primeiro dia de julgamento, realizado na quarta-feira (30), depoimentos emocionantes trouxeram à tona as repercussões do crime para as famílias das vítimas e detalharam a crueldade da ação que tirou a vida de Marielle e Anderson. A assessora de Marielle, Fernanda Gonçalves Chaves, abriu a sessão ao relembrar, de forma remota, a cena do crime. Em um depoimento comovente, ela descreveu o impacto psicológico do momento. “Eu olhava para a Marielle e queria acreditar que ela estava viva, que estava desmaiada”, contou, em lágrimas.
Mônica Benício, viúva de Marielle, também fez um apelo emocionado por justiça. Ela relembrou os planos de vida que tinham juntas e o sofrimento que enfrentou após o assassinato. “Espero que se faça a justiça que o Brasil e o mundo esperam há 6 anos e 7 meses”, declarou, reiterando a importância de um desfecho definitivo para o caso, que se tornou símbolo da luta pelos direitos humanos.
Testemunhos e versões
Os depoimentos de Lessa e Queiroz confirmaram os relatos apresentados anteriormente nas delações premiadas. Lessa afirmou que o crime foi encomendado por R$ 25 milhões e que convidou Élcio para a ação devido à sua situação financeira difícil. Em sua versão, Élcio só soube da identidade da vítima no dia do crime. Élcio, por sua vez, corroborou a narrativa de Lessa, mas frisou que foi informado apenas no momento exato e que não poderia recuar sem colocar sua vida em risco.
Ainda na quarta-feira, foram ouvidos depoimentos de agentes da Polícia Civil e Federal que trabalharam nas investigações. O agente federal Marcelo Pasqualetti destacou que, diante das provas coletadas, os réus sentiram-se sem alternativas a não ser confessar o crime.
Implicações e mandantes
O caso dos mandantes, que inclui os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, corre em separado no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o assassinato de Marielle teria sido motivado por interesses dos irmãos em barrar o trabalho da vereadora, que impactava diretamente suas atividades, desde indicações para o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro até questões envolvendo a regularização de áreas ocupadas por milícias na zona oeste da cidade.
O peso da justiça e o apelo das famílias
Além de Mônica Benício, Agatha Arnaus, viúva de Anderson, também trouxe ao tribunal um retrato doloroso das consequências do crime para sua família. Ela descreveu as dificuldades de criar sozinha um filho com deficiência e a lacuna irreparável que a ausência do pai trouxe ao desenvolvimento da criança. “A primeira palavra que ele falou foi ‘papai’”, relatou, emocionada.
Hoje, o júri decidirá se Lessa e Queiroz são culpados ou inocentes das acusações de homicídio. À juíza caberá a dosimetria da pena, estipulando por quanto tempo os dois ainda ficarão presos. Para as famílias, a expectativa é de que a justiça traga um fechamento e uma mensagem contundente contra a impunidade, valorizando a memória de Marielle e Anderson e reforçando o combate à violência contra defensores de direitos humanos no Brasil.
A sentença, aguardada com ansiedade por ativistas e pela sociedade civil, representará um marco na busca pela justiça no país, evidenciando a luta incessante daqueles que ainda clamam por respostas sobre o crime que interrompeu o legado de Marielle Franco.